Nos últimos anos, o mundo digital abriu portas para inúmeras oportunidades, desde a educação até o entretenimento, proporcionando acesso a uma infinidade de conteúdos e atividades que antes pareciam inalcançáveis. No entanto, em meio a essas inovações, um perigoso predador silencioso tem ganhado espaço: os jogos eletrônicos de azar. Conhecido como “Tigrinho” que aqui eu vou nomear como “O Predador Digital”, esse fenômeno vem representando uma ameaça crescente para crianças, adolescentes e adultos, colocando em risco não apenas a saúde mental, mas também o bem-estar social, financeiro e emocional.
Esses jogos, como máquinas caça-níqueis, roletas e outros tipos de apostas virtuais, têm se proliferado na internet de forma alarmante. Suas interfaces atraentes, muitas vezes camufladas em aplicativos aparentemente inofensivos, oferecem recompensas instantâneas que prometem prêmios e vitórias fáceis, mas acabam sugando os jogadores para um ciclo contínuo de perdas e esperanças. Esse ciclo é especialmente perigoso para crianças e adolescentes, cujas habilidades cognitivas e emocionais ainda estão em desenvolvimento e que, muitas vezes, não conseguem discernir entre o que é real e o que é ilusório.
Os desafios psicológicos associados a esse vício são numerosos, e um dos principais é o efeito da dopamina, um neurotransmissor relacionado ao prazer e à recompensa. Quando uma criança ou adolescente vence uma rodada em um jogo de azar, o cérebro libera dopamina, criando uma sensação temporária de euforia. Quando essa sensação desaparece, surge um desejo irresistível de revivê-la, levando o jogador a buscar novas apostas na esperança de replicar a mesma sensação de prazer. Esse ciclo de dependência é conhecido como reforço intermitente, o mesmo mecanismo que vicia pessoas em substâncias como álcool e drogas.
O envolvimento com jogos eletrônicos de azar pode desencadear ou agravar uma série de problemas psicológicos, como ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo e, em casos mais extremos, tendências suicidas. O vício em jogos não apenas afeta a saúde mental dos jovens, mas também os priva de uma convivência saudável com a família, amigos e colegas, prejudicando seu desempenho escolar e seu desenvolvimento social.
Para os adultos, os impactos podem ser igualmente devastadores. Além do desgaste emocional e psicológico, o vício em jogos de azar está frequentemente associado a dificuldades financeiras, endividamento e até problemas legais. Muitos adultos começam a utilizar os jogos como uma válvula de escape para problemas pessoais ou profissionais, sem perceber que estão se enredando em um labirinto de perdas e frustrações. Para as famílias, o impacto também é profundo, com relacionamentos se desgastando sob o peso da desconfiança, da culpa e do estresse financeiro.
É crucial, portanto, que se compreenda a gravidade do problema e que sejam tomadas medidas para proteger crianças, adolescentes e adultos dos perigos representados por esse “Predador Digital”. Promover uma educação digital que capacite os jovens a reconhecerem os riscos e as armadilhas dos jogos de azar é essencial, desenvolvendo a capacidade crítica necessária para evitar o envolvimento com essas atividades. A família, a escola e a sociedade em geral desempenham um papel fundamental nesse processo de conscientização, orientando e oferecendo apoio para aqueles que já estão em situação de risco.
Jogos que tem esse perfil do “Tigrinho, o Predador Digital” representa um perigo real e iminente que exige ação imediata. Reconhecer os desafios psicológicos, sociais e financeiros associados ao vício em jogos eletrônicos de azar é o primeiro passo para proteger nossas crianças, adolescentes e adultos. Ao construir um ambiente de apoio e conscientização, podemos enfrentar esse predador digital, ajudando aqueles que já foram afetados a encontrar o caminho para fora do labirinto de apostas e recompensas ilusórias.
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Ricardo Furtado de Oliveira
Psicólogo e Neuropsicólogo inscrito no CRP 23/542
Pedagogo e Sociólogo | Terapeuta Cognitivo Comportamental
Mestre em Ciências da Saúde e Tecnologias Emergentes na Educação
Doutorando em Ciências da Educação
Professor e Pesquisador na área de violências, tecnologias e educação